domingo, 24 de abril de 2011

Lembranças de uma mente quente

Pena ou ponta, me diz quem és. Desenha a boca. Se és tú, ou não é, já não importa mais.
Deixa que teu sexo nos una, teu sêmem, correndo com o suor que lhe fecha os olhos.
Gira o quarto, tira a ponta da caneta da pauta, sobe, desce, sagrado gemido. Toca o blues enquanto se desfaz, enquanto dá um sorriso, ri, gargalha.Me deixa pensar que o teu cabelo é o meu. Abre as minhas pernas. Sem censura nos poros arrepiados, pêlos recebendo carícias da saliva, que se arrasta como um trator num campo aberto. Que passa amassando as flores docemente, colhendo o pólen que ainda vai ser semeiado pelas abelhas. Vai do grito da guitarra, cortando os ouvidos, até o gemido do saxofone, entorpecedor. Tiros são disparados, com pólvora dourada se espalhando em volta. Me morre, ou então, me inconscientiza de mim mesma, e renasce das cinzas. Sabe-se que escrevendo não há alucinação que passe.
(Agora?) Fumo meu cigarro, e sei que não tem ninguém nascendo ou morrendo na minha poeira.
Acende essa fumaça, me deixa ser assim, avoada.
Me chamou de pirata... Quem me dera ter desbravado algum mar, qualquer que fosse. Mostro apenas a tatuagem dos tempos, cicatriz de guerra. A minha âncora de ferro e gelada, voltou dos mares cheia de vida lhe nascendo: musgos, algas, pequenas alfaces do marítimas, todo o mar veio a calhar na velha enferrujada. O que deixou para trás ela não me conta, anuncia, por ser só, e apenas ela, que tempos de ventos fortes virão.
"- Dê um aviso aos marinheiros: dancem conforme a maré balançar!"
O chocolate que derrete a boca é melado, escuro, assim como teus olhos.
Suave melodia, notas familiares, amadeiradas, agudas, cítricas, graves, tudo simultaneamente, simultalismo cravado.
(Roda gigante, gire mais rápido, para que no vácuo eu pense que possa existir eu mesma.)
Aceita o meu convite e me come. Te deixo a boca doce, com açúcar estilhaçado nos lábios.
É sem querer, você se torna pra mim o mais belo desafio. Ainda te percorro, como se jogasse uma partida de xadrez.
Só vou ler-me, quando me lembrar.
"Não! Eu quero você, quero muito."
O narciso se esqueceu, a mente pipocou, nos deitamos em câmera lenta.
Ando lendo demais os surrealistas, deixam-me até com a letra mais arredondada.
Devagar, divagando, uma reminescência por vez, a mente é fraca para certas coisas. Um neurônio por vez, acende, vai!
"Eles chegaram! Todos vieram, ademais da orgia niilista, vem a calmaria, como o mar de ressaca e óculos escuros. Não me atenda! Desligue o telefone antes de eu ouvir a tua voz..."

P, de pai.

Pousa no meu ombro, te construo um abrigo. Um iglu dentro do meu peito.
Mas minhas mãos suadas te esquentarão, e você não se importará. Será cordialidade, comunicação silenciosa.
Não te vejo, mas quero estar aqui. Não chores, te aconselho, mas na prática volto quando tuas lágrimas tocarem o teu peito.
As formigas não se importam, mas eu sim, quando chegam às nossas mãos, braços.
Juntam-se a essa compatibilidade empoeirada de Pandora.
Dá-se ao vento, torna-se vivo de novo.
A flor que virou borboleta amedontra os desavisados.
Traz boas novas para os platônicos: a liberdade chegou!
Segue o exemplo, torna teu aquilo que tocares, uma parte tua outra de todo resto.
Desalinha a passagem que eu quero chegar.
Preto e branco se desfez. Se mostrou no desconhecido.
Voou com asas bem abertas, planou por nossas cabeças baixas, choramingantes.
Ocorreu venenosa, silenciosa, intravenosa. Numa batida, como numa música, se fez a luz, numa madrugada imprevisível e vazia. Tudo vai, o escrito fica, dopado. A culpa não- negada se auto- mutila docemente.
"Foi por minha causa!"
Por mais quanto tempo o exposto vai ser oculto? A sanidade passou, sempre passa.
Visão dali: rodas, motores, passos, raios.
O rasgo na nuvem é que traduz o que eu sinto, pois, a multidão ignora o um, dá apenas compaixão aos olhares tristes.
O que eu digo é, pode vir me visitar com a sirene ligada, porque a estrada nunca mais vai ser a mesma.

Para alguém que já se foi

Passa por mim, fica na tua ausência.
Condolências do imaginário, do bestiário às minhas mãos...
O grau não está perfeito, você sabe disso, meu querido.
Na minha tosse você sai como sangue, e escrevo pra passar o que vai continuar. Trago o amargo, amortecedor.
Na excessão, via de regra não importa, foi antes dos cinquenta. Meus batimentos não foram os mesmos que os seus, e ainda assim, me veio no meio da noite.
Segura essa esquizofrenia, menina!
Sou compulsiva por tristeza, hoje a febre não veio, mas também não passou...

O que eu gosto do teu corpo...

O que eu gosto do teu corpo é o sexo.
O que eu gosto do teu sexo é a boca.
O que eu gosto da tua boca é a língua.
O que eu gosto da tu língua é a palavra.

Júlio Cortázar
The end (The doors) + antidepressivos = Anulação do efeito da medicação