terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Eu, eu mesma, e Bukowski

Eu, como todos, sempre tive um ponto forte. Porém, o meu era rejeitado pela sociedade e descabido moralmente: O meu ponto forte era a fraqueza.
 Francamente, deslizava para o fundo do copo. Não, não está errado. Realemente quis dizer copo, não poço. Nele tinha a vantagem de que, quanto mais esvaziasse, menos lembraria o porquê de tudo aquilo. O que deve se levar em conta também, é que não é possível cair dentro de um, o máximo,é com um. Agora, a certeza de que não vou me afogar, já nao é inteira. De certo poderia regurgitar ou gorfar tudo uma hora ou outra, quando bêbado. E isso é quase se afogar. Mais um ponto positivo, é que você escolhe seu próprio sabor. Mias doce, mais amargo, mais apaixonante, mais puro. Tenho boas (e más) lembranças de meu ponto forte/fraco, no caso. Muitas mulheres, apaixonantes, da rotina, que vão e vem à tona, são algumas delas. Olhos roxos, brigas de bar, tudo me contradizendo e dizendo: Me paga mais um drinque?

( N.A: Vontade de escrever como um velho safado.)

Extra! Extra!

James Cameron plagiou arquivo-x. É sim, primeira temporada, quinto cd, último episódio.

Adubo

Vejo o mundo pelos olhos de outra pessoa. Coloco os óculos de grau, alheios, de um rosto amigo. Meus próprios olhos pareciam mais duas almas perdidas, dentro do aquário inaquático. Enxergo assim pessoas a mais, meias barbas, embaçado contínuo. Fico o maior tempo possível focando nas plantas mortas, no meio da natureza viva. Adubo natural pro meu terreno. Senti o calafrio da realidade, vista notóriamente por meio da corrente gelada de vento, que me deixa vesga, vendo o próprio nariz. Olhar pra dentro não foi possível, estava tudo um breu, daqueles em que não se tem nem uma vela, nem um fósforo. E se tivesse, a chuva teria apagado.

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Gas, chamber

 Entrei naquele vagão amontoado e logo pensei: "Big brother is watching you". Com todas aquelas pessoas correndo para não desistir, se deixando levar pela maré do sistema, tentando conseguir uma sensação de recompensa no final do dia.
 Do lugar em que estava era medonho olhar para o fundo do trem, bem onde as cabines acabavam. Gente aonde era pra estar vazio, cheiro de labuta, a pequena quantidade de vento que entrava era quente e todos os pés se encontravam, entre pisões. Apostei que o senso não incluira o metrô, quando fizera a contagem de quantas pessoas por metro quadrado haviam em São Paulo.
 Fui preenchida pela ideia de que aquele lugar afobado era um não-tão-engenhoso plano de genocídio, comandado por alguém maior, fosse extraterreno, intraterreno ou apenas terreno. Comentava silenciosamente comigo mesma, que toda essa situação deveria ser a mesma sensação que os judeus tinham ao entrar numa câmara de gás. Onde, após a sirene, não haveria mais volta até a abertura das portas, onde nesse caso sairiam todos a caminho de casa, para chegarem lá mortos. De cansaço.

Viu?

Ela vira
Ele vira
Eles se viram.
Continuaram seu caminho.
Se verão novamente?
Quem sabe na virada de uma esquina qualquer...

Sacada preferida

Ontem olhei pela sacada e achei que tinha visto as estrelas refletidas no piso. Levantei a cabeça, e olhando o toldo rasgado, desejei ver as ditas cujas, percebendo de súbito que o que via, era na verdade o reflexo das luzes da cidade na água da chuva fraca, empossada no desnivelamento do chão. Terminei o cigarro na pressa, com uma calma já familiar e entrei inteiramente na escuridão do quarto. Guardei o isqueiro em minha gaveta preferida, entre móveis claros e roupas largadas pelo assoalho. Me deitei na cama, desejando ardentemente um eclipse pessoal, total e finito. Dessa maneira realizei que, só percebi que estava no escuro quando vi as luzes das estrelas grudadas no teto brilharem fortemente, alimentadas ferozmente pelo que me consumia. O desejo de observar incessantemente, incansávelmente incurável. Grandes culpadas pelo meu viver destrambelhado.

domingo, 12 de dezembro de 2010

Hoje descobri que não deixo um incenso aceso quando saio de casa, por medo de que, por algum motivo tudo pegue fogo. Mas não tenho medo de dormir, com ele me deixando ludibriada com seu cheiro, por pensar que pelo menos eu estaria no meio do caos, se ele acontecesse.

R.R.

- Somos sujas, pervertidas e curiosas. Por isso conte-nos tudo o que acontecer. - Foi o que elas me disseram, enquanto estávamos bêbadas no corredor de casa, com o som no último volume, dançando, e se misturando à chuva que molhava nossos cigarros.
Esse dia já havia nos feito passar por estômagos pequenos, exasperações, e ceticismos crônicos. Estávamos realmente desconexadas em relação a nossos próprios pensamentos. À parte disso, ele estava chegando. Só acreditei realmente que viria, quando lhe falei no celular em que ponto de ônibus deveria descer, e eu o pegaria lá. Foi uma chegada fria, a chuva havia parado e ainda estava claro. Nos beijamos no rosto, e andávamos rapidamente para não sermos descobertos, àquela altura do campeonato por algum vizinho indiscreto. Dessa vez não seria a noite de um homem e uma mulher, e sim uma tarde. Meio desengonçada, contando apenas com o que tinha pra dar certo, com a margem pra erro beirando a lei de Murphy.
 Assim aconteceu tudo: Ao som de Led Zeppelin. Havia olhares estagnados que se cruzavam, pelos eriçados no calor de uma janela fechada e luzes apagadas. Os gemidos de Robert Plant se misturavam com os meus, com a naturalidade grega antiga nos envolvendo, dois corpos fundindo-se, onde confundiam-se os cabelos, meus lábios se moviam inconscientemente junto à música. Nada mais importava, éramos os únicos num mundo com portas fechadas e o barulho da cama rangendo. Cada gota de suor que nos escorria pelo corpo, era um breve anúncio ao prazer sublime procurado extremamente por todos, e apenas achado por quem tem o mapa certo.

Bonjour

" Porque o azedo é mais real ", o que não significa que não se pode colocar açúcar, adoçante, canududos festivos, ou até mesmo frutas na borda do copo. E é esse o motivo da minha vontade de escrever. Quando as coisas começam a tomar gosto, não importa qual seja, é preciso que elas não sejam esquecidas. Sendo em contos um pouco romanceados, em trechos de conversas, em pensamentos desconexos, deixarei a quem ler o principal: Que não é apenas escrever, e sim sentir correndo mais forte nas veias quando se lê. A partir daí, tendo todos os sonhos do mundo, começo mais um bloquinho de notas.

C.