domingo, 9 de janeiro de 2011

Into the wild

Descendo a escada para o quintal fui ficando pequena. Menor e menor a cada degrau, chegando a pairar levemente contra o chão no último. A queda foi parecida como uma pluma que cai de uma ave que voa alto, leve, como leve pluma muito leve, pousei. Observei o jardim das plantas cortadas a minha frente, relva áspera, com sulcos brancos escorrendo de suas entranhas dilasceradas. Tudo parecia maior, a medida de que eu estava menor. O céu visto daquele ângulo reto, rendeu lembranças de um dia chuvoso no qual dancei nua naquele mesmo lugar, debaixo de um temporal de arrastar barracos.
 Cheguei mais perto de toda aquela bagunça, e o cigarro (que não segurava a mais de duas semanas), pareceu me da minha altura. Por curiosidade, adentrei na selva desconhecida de um lugar conhecido, como alguém esquecida. Fiquei emaranhada em algumas teias de aranha cheias de caco de vidro, meu sangue escorreu junto da seiva venenosa. Linhas tênues de formigas andarilhas me levaram ao coração da floresta, lá ele batia forte, vermelho, pulsante, vivo. Via suas veias e artérias, quase que transparentes de pureza, de líquido escarlate por dentro, e delirantemente nítidas a olho nú. Pude sentir a leve tontura de quando se sai do corpo, a sensação de sono provida do verde, a vitalidade de tocar o chão com os pés descalços. Lá, em estado de quase nirvana adormeci de olhos abertos, embalsamada em meus próprios pensamentos, como bolhas preenchidas com formol. Não empalhada por pouco, acordei sem ter que abrir os olhos. Sai do não denominado labirinto sabendo inexplicávelmente o caminho de volta, com risadas nos bolsos e arranhões pelo corpo. Já do lado de fora percebi que, o tempo que tinha passado, tinha sido de apenas um trago.

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